Por sinal, nunca é demais enfatizar que até por volta dos dois anos de idade as crianças não costumam oferecer resistência aos alimentos. Muitas estão até habituadas ao consumo de batatas, cenouras e espinafre, mas em forma de sopa ou papinha. Quando é hora de apresentar estes alimentos em sua forma natural, a criança estranha – e rejeita.
Outro fator que agrava a equação é o contato do pequeno com alimentos industrializados. "Os problemas aparecem depois. Principalmente com a introdução de açúcar e frituras, que têm um sabor bem mais acentuado que as verduras, e bem mais doce que as frutas", diz o pediatra Sergio Spalter, quando o assunto é alimentação e nutrição infantil.
Aí é que entra a responsabilidade dos adultos. Em primeiro lugar, o papel dos pais é controlar o que entra em casa. Se pães integrais e produtos de hortifruti frescos estão sempre à mesa, as crianças terão menos chances de consumir balas e salgadinhos.
Além disso, existe o puro e simples – mas não menos eficaz – bom exemplo. "Os pais são o grande exemplo dos filhos. Quando a criança senta-se à mesa e vê seus pais se alimentando de forma adequada, com frutas, verduras e legumes, isso a encoraja a consumir estes alimentos", afirma Daniela Murakami, nutricionista da Nutrir e Brincar, consultoria especializada em nutrição infantil.
Dificuldades e
orientações importantes
Nem sempre, no entanto, controlar o que entra na sua casa e alimentar-se de forma saudável bastam para fazer com que os pequenos comam todo o prato de escarola - e ainda peçam uma maçã de sobremesa. Existem abordagens práticas que ajudam os pais a educarem suas crianças para uma alimentação balanceada.
O pediatra Sergio Spalter comenta, por exemplo, uma feliz convergência de fatos: se por volta dos 2 anos a criança passa a estranhar alguns alimentos, essa também é a fase em que começa a exercitar a fantasia.
Então, por que não fazer da hora da comida um momento de imaginação? Conte histórias e faça jogos para estimulá-los a comer. Uma simples receita de macarrão com legumes pode virar uma poção mágica e as crianças podem se divertir (e comer melhor) se forem desafiadas a adivinhar o conteúdo de cada colherada.
Deixe a criança brincar com os alimentos e convide-a a participar da feira semanal e do preparo dos pratos. Ver que a cenoura é cor de laranja, sentir a textura de sua casca, comprá-la e observar a preparação dela pode despertar o interesse pela até então desconhecida e rejeitada raiz.
Variar nos cortes, na preparação e na apresentação também podem ajudar. Se a criança não come brócolis refogado, tente fazer bolinho de brócolis ou colocar a verdura no arroz.
Muitas crianças podem rejeitar cenoura cortada em rodelas, mas gostar de comê-las em palitinhos. E um prato com uma carinha desenhada com os alimentos é bem mais atraente do que a disposição simples da comida.
Paciência e persistência são ideais
na educação alimentar dos filhos
Perdidas entre tantas orientações e sugestões do que fazer, as mães costumam se esquecer do que não fazer. "Nunca castigue seu filho caso ele rejeite determinado alimento. Graves repreeensões fazem com que a criança tenha uma experiência negativa por aquele alimento, associando-o a uma coisa ruim", alerta Daniela Murakami.
Também não perca tempo forçando a criança a aceitar couve de bruxelas, especialmente se ela já come chuchu, espinafre e batata doce. Seu filho não é obrigado a gostar de todas as verduras e legumes existentes na face da Terra. "Os pais devem sempre oferecer frutas, legumes e verduras, mesmo que a criança recuse no primeiro momento, pois o paladar muda com o tempo", acrescenta ela.
Sugestão de mãe
e dona-de-casa

Uma criança que não come direito e dá um show a cada refeição é um pesadelo bem real de muitas mães. Mas ao final de tudo, o bom senso sempre prevalece.
1. não force a criança a comer o que ela não gosta
Se você brigar com a criança ou forçá-la a comer algo com violência, a criança vai ficar com mais raiva ainda da comida. Além disso, esse tipo de discussão ou briga acaba tirando o apetite e estragando a hora do almoço de todos os que estiverem na mesa.
2. dê o exemplo
Esse é o segundo conselho mais importante. Não adianta você querer que seu filho coma saladas se você não come. Dizer "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" é coisa de pais insensatos: a criança acaba ficando com raiva e se decepcionando com os pais se suas atitudes se contradizem com seus conselhos.
3. dê conhecimento
A gente não gosta daquilo que não conhece. Mostre as verduras, diga-lhes os nomes, diga que vitaminas cada verdura ou fruta tem e para que serve. Diga o que acontece se faltar alguma vitamina ou mineral no corpo. Mostre livros que falem sobre o funcionamento do corpo humano (as crianças adoram ver como é que as coisas funcionam), ou sobre nutrição. Dê preferência a livros que tragam bastante ilustrações e que coloque o assunto de maneira clara, mas não infantilizada demais (as crianças não gostam de ser tratadas como se fossem retardadas).
4. veja o que você põe na salada
Evite colocar o mesmo tempero em todas as saladas. Algumas famílias têm o hábito de colocar vinagre em todas as verduras: se a criança não gostar do vinagre, não vai gostar de nenhuma verdura, pois todas terão o mesmo gosto. Isso vale para qualquer tempero, principalmente os com sabor mais forte. Ah, e isso eu falo por experiência própria.
5. experimente molhos e temperos diferentes
Existem vários molhos diferentes para saladas. Tente de tudo: molho de iogurte, maionese, molho branco, vinagre de álcool, vinagre de vinho, vinagre de maçã, azeite de oliva, sal, cominho, ervas finas, alecrim, orégano, orégano com queijo (para dar aquele cheirinho de pizza), queijo derretido, molho de queijo, creme de leite, etc.
6. a salada não é prato secundário
Experimente colocar a salada como prato principal de algumas refeições.
7. faça pratos diferentes
A maioria das crianças não gosta de cenoura cozida no vapor, nem de cenoura crua ralada. Mas boa parte delas gosta de bolo de cenoura, suflê de cenoura, suco de cenoura e de outros pratos em que a cenoura é o ingrediente principal. Se você prepara pratos gostosos com a cenoura e diz que é feito com cenoura, é possível que a aversão que a criança tem à cenoura diminua e talvez até desapareça. De quaquer forma, se ela comer pratos que contenham cenoura, já é muito bom. Isso vale para qualquer verdura ou fruta.
Experimente servir apenas vegetais em uma determinada refeição. Por exemplo: faça uma lazanha de brócolis, uma saladinha de tomate temperada com sal e azeite de oliva, e sirva também folhas de alface. Se desejar, cozinhe umas batatas e cenouras para dar mais volume à refeição (caso você sirva no almoço). Essa é uma refeição saborosa e nutritiva. Duvido que as crianças reclamem.
8. coloque no arroz
Aproveite o arroz para enriquecer a dieta de seu filho:
– coloque cebola ou alho picadinho no arroz. As crianças nem vão notar!
– corte cenoura em cubinhos e coloque no arroz. Chame de arroz fantasia. Fica bonito e as crianças, em geral, não reclamam.
– se você cozinhou verduras, não jogue a água fora: use-a para cozinhar o arroz. Assim os nutrientes que saíram das verduras cozidas não vão para o ralo: vão para o arroz.
– tente outras coisas.
9. preparos diferentes
Existem muitos pratos saborosos que contêm verduras cruas ou cozidas. Experimente fazer alguns destes pratos de vez em quando. Aqui vão algumas sugestões de pratos gostosos com verduras e legumes: – suflês, lazanhas, yakisoba, cremes, tortas salgadas, tortas de legumes, bolos, etc.
10. faça pratos lúdicos
A hora da refeição não pode ser algo desagradável, tem que ser um momento divertido e prazeroso. Faça pratos coloridos, com desenhos ou formas diferentes. Às vezes um simples detalhe, como uma fatia de limão enfeitando o copo de suco ou da salada de frutas já faz a criança despertar o interesse pela comida.
Algumas sugestões: – canudinhos recheados, saladas coloridas, rolinhos primavera, saladas de frutas com enfeites na borda do copo, carambola fatiada (fica parecendo uma estrela), etc.
11. deixe a criança participar
Se você tiver casa, faça uma pequena horta. As crianças gostam desse tipo de coisa e às vezes elas falam com orgulho: "esse alface é da minha horta!". Levar a criança para a feira e perguntar o que ela quer pode ser bem interessante. Ela vai responder que quer algo. Dificilmente elas têm a idéia de dizer que não querem nada: elas sempre querem alguma coisa.
Depois pergunte como ela vai querer que o que ela escolheu seja preparado. Se ela não quiser participar, não insista.