Desequilíbrio sexual: onde os valores se perderam?

02/01/2014 22:46

Família humanidade

*Maria Sueli Periotto, pedagoga

            A iniciação sexual precoce é alvo de preocupações crescentes na família, tendo em vista o número de casos de gravidez na adolescência — uma em cada cinco mulheres grávidas no país tem entre 15 e 19 anos (IBGE, 2007).

 

            Os caminhos a serem trilhados pelos pais ou responsáveis na condução desses assuntos em casa oferecem desafios cada vez maiores. É importante que jamais viremos o rosto às perguntas que nos chegam.

            Existe a necessidade sempre de reforçarmos o diálogo, a fim de que sejamos aqueles a quem nossas crianças e jovens procurem para esclarecer suas dúvidas, falar sobre seus anseios.

 

            Se não abrirmos espaço para esse diálogo no próprio lar, eles poderão se arriscar a obter informações de quem não os ama como a família, e mesmo conteúdos que não agreguem esclarecimentos positivos para a saudável formação deles.

            Não há idade certa para falar sobre sexualidade em casa. "Manhê, de onde eu vim?", pergunta o filho de 5 anos. Precisamos dar uma resposta simples à criança que, diante de nós, espera um esclarecimento, o qual deve ser conduzido de acordo com as necessidades de cada faixa etária, sem fugirmos ou demonstrarmos constrangimento diante de quaisquer questões colocadas.

            Se desde cedo os filhos se habituarem a ter respostas dos pais, continuarão conversando sobre o assunto dentro da própria casa; se não há resposta nossa ou se demonstramos vergonha em abordar algum tema, então, é natural que procurem falar com colegas ou até desconhecidos, enfim, pessoas fora do convívio familiar.

+ O Espírito Santo inscreve-nos no Céu!...

O nosso nome estará escrito no Céu?...

Os laços sagrados do matrimônio dão origem a família, embrião de uma sociedade equânime.

             O risco dessa segunda situação é que o objeto do questionamento tratado longe do lar pode ser discutido friamente ou de acordo com o modismo do momento, sem a ponderação dos valores (éticos, ecumênicos e espirituais) nos quais devemos nos pautar, sempre, ao conversar sobre os temas que nos são propostos pela criança ou adolescente.

 

            Também pode partir dos pais tratar do assunto quando este aparecer na programação da TV, apontando erros e acertos na abordagem:

 

            "Veja, filho, houve um equívoco nesse filme: um jovem não deve começar sua vida sexual tão cedo, como se fosse algo banal... Viu como nesta cena houve uma situação apenas física, sem nenhum sentimento ou responsabilidade?".

 

            A partir daí, já se tem um excelente início de conversa...

            
Além do diálogo no lar, muitos pais contam com a parceria da escola para reforçar com valores os assuntos ligados à sexualidade. As famílias cujos filhos estudam na rede de ensino da Legião da Boa Vontade encontram esse respaldo.

 

            Tópicos dessa temática são abordados com o necessário equilíbrio, e jamais de forma vulgar ou depreciativa.

Pedagogia do Afeto e

Pedagogia do Cidadão Ecumênico

 

            escritor José de Paiva Netto, que preside as Instituições da Boa Vontade, criou a linha pedagógica da LBV, formada pela Pedagogia do Afeto (que é dirigida às crianças até os 10 anos de idade) e pela Pedagogia do Cidadão Ecumênico (que norteia as atividades socioeducacionais para educandos a partir dos 11 anos).

 

            Nas escolas da Legião da Boa Vontade, os educadores sabem da importância de tratar os assuntos ligados à sexualidade, sempre, à luz da Espiritualidade Ecumênica — tanto em situação de aula, em quaisquer disciplinas, respondendo às perguntas, quanto em atividades em que, por exemplo, profissionais de saúde são convidados a falar sobre DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), gravidez na adolescência, comportamentos de risco e prevenção às drogas.

            Há, inclusive, uma disciplina na grade escolar que auxilia os estudantes a encontrar respostas para esses desafios, enfrentados em todas as idades: Convivência.

 

            O importante é que tais assuntos não fiquem associados unicamente à questão da mecânica sexual. É fundamental que se destaque a responsabilidade envolvida nas relações sexuais, surgida do amadurecimento do sentimento de duas pessoas.

 

            Nas aulas de Convivência, os educadores solicitam pesquisas aos alunos, seguindo a faixa etária e as etapas do método próprio da LBV, o MAPREI (Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva).

 

Manual de Educação apresenta a inovadora proposta pedagógica da LBV e sua metodologia própria - o Metódo de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva (Maprei), com exemplos da aplicação da metodologia, demonstrando como é possível de ser implementada pelos educadores nas escolas, independente da faixa etária dos educandos, valioso recurso motivacional aos professores e verdadeiro antítodo contra a apatia muitas vezes comum do estudante na aquisição formal do conhecimento. Informações: 0300 1007 940.

 

            Assim, os próprios educandos trazem as matérias para enriquecer as discussões, com a mediação do educador, responsável por instigar a reflexão sobre os valores em foco nas pesquisas.

            Assim, como o fato de sermos seres integrais requer cuidados num todo, precisamos alertar o educando sobre as consequências físicas e emocionais de uma iniciação sexual prematura, orientando-o a respeito de possíveis doenças ou uma gestação precoce, sem esquecer a dimensão espiritual, afetada, por exemplo, pelas situações aqui já descritas.

 

            Sem sentimento e responsabilidade, constroem-se situações que nos levam a envolvimentos sem amor, o que frustra e deixa marcas difíceis de serem apagadas.

            Questionamentos sempre surgem. Lembremos que outrora, muitas vezes, eles não foram respondidos por nossos pais (por tratar-se de assunto tabu, muito pouco conversado em família, ou pela falta de conhecimento de como conduzir um esclarecimento adequado).

 

            Para garantir que não nos faltem as palavras certas para aplacar dúvidas, uma ferramenta de apoio infalível, no caminho das respostas necessárias a nossos filhos e educandos, que não é sinônimo de improviso, mas de preparo e confiança em Deus, é a intuição.

            No ensaio literário Evangelho do Sexo (Editora Elevação, 2006), Paiva Netto nos apresenta valioso conteúdo, que muito pode contribuir para orientar esse tipo de diálogo. Ele conduz o assunto pela ótica da Espiritualidade Ecumênica, numa linguagem para a família, que favorece o entendimento de jovens e adultos. Destacamos um trecho da obra que corrobora a importância de leituras esclarecedoras e de qualidade para as novas gerações:

 

Sexo sem Amor

qualquer animal

pode consumar

 

            "Que é Sexo? Criação, repito. Porém, hoje até mesmo em escolas, quando certos educadores falam sobre ele, ao que talvez se possa assistir são lições de mecanismo sexual. Reduz-se assim o Sexo, como se um quadro valesse apenas por suas tintas, esquecido o valor do artista. Deus é o artista do Cosmos. A arte, Suas criaturas. Sexo é Arte Suprema, não meramente instinto, que qualquer animal é capaz de consumar... Das tintas nas mãos de, no caso, um pigmeu do espírito surgirão simplesmente borrões...".

            O determinante no lar e na escola é que cultivemos, amparados pela capacidade da intuição, o mais cedo possível, o diálogo, sem desprezar jamais o bom hábito de abrir espaço para nossos filhos e educandos perguntarem, perguntarem e perguntarem, sempre.

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*é conferencista, pedagoga pós-graduada em Gestão Escolar e Metodologia das Ciências Humanas, mestranda em Educação: currículo (PUC–SP) e apresentadora do programa Educação em Debate, da Rádio Boa Vontade-AM 1230 de São Paulo, e Rádio Brasil-AM 940 do Rio de Janeiro.