Maioria dos acidentes com motos no Brasil, a culpa é do motociclista, diz OMS

Eliane Patrícia Cruz / Agência Brasil-SP.

 

           O aumento do número de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas no Brasil preocupa não só os órgãos de trânsito do país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) está convencida de que os motociclistas são os principais responsáveis pelos acidentes.

 

           Consideramos que 70% das causas de acidente são devidos a fatores humanos. E, agora, temos o problema das motocicletas: com o aumento da frota de motocicletas aumentou muito o número de acidentes devido a má condução do veículo, disse Mercedes Maldonado, representante da OMS no Brasil.
 

           O tema foi discutido em agosto de 2011no Fórum Paulista de Prevenção de Acidentes de Trânsito e Transportes, promovido pelo Conselho Estadual para Diminuição de Acidentes de Trânsito e Transportes (Cedatt), realizado na cidade de São Paulo/SP.

 

 Principais causas  

de acidente de trânsito


           Mercedes Maldonado apresentou números para mostrar que as principais causas de acidente de trânsito no Brasil são:

 

) excesso de velocidade (26%),

) infraestrutura rodoviária (20%), e

motociclistas (16%).


           Segundo o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense, as maiores vítimas de acidentes de trânsito no Brasil ainda são os pedestres, mas os motociclistas já ocupam a segunda posição.  

 

           Metade das pessoas que morrem anualmente é pedestre. Em segundo lugar, e crescendo enormemente, estão os motociclistas. Há também uma questão que envolve o excesso de velocidade com ou sem alcool e a da má habilitação, disse ele.
 

           Já o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Mauro Ribeiro, alerta: temos lugares no país onde 50% dos óbitos são de motociclistas.

 

 Uso abusivo do espaço

entre carros em movimento

 

           Um dos problemas apontados pelos especialistas é o uso do chamado "corredor", o espaço estreito entre uma faixa e outra da via. Brasiliense explicou que, ao usar o corredor para ultrapassar os carros, o motociclista deixa de ser visto por, pelo menos, um dos três espelhos retrovisores que o motorista de automóvel tem à disposição, "aumentando enormemente a possibilidade dele se acidentar.
 

           Segundo José Guedes Pereira, presidente do Sindicato das Auto Moto Escolas e Centro de Formação de Condutores no Estado de São Paulo, o elevado número de acidentes envolvendo motocicletas deve-se, principalmente, ao veto do artigo 56 do Código Nacional de TrânsitoO artigo proibia expressamente a circulação de motocicletas nos corredores.
 

           Isso fez com que o motociclista mudasse o comportamento. Como temos as motos circulando muito entre os veículos, criamos uma situação de mobilidade diferente, de massa diferente e de velocidade diferente. Isso expõe uma situação de risco muito grande. Já estamos chegando a acidentes de moto com moto, disse Ribeiro, que defende a proibição do tráfego de motos nos corredores.

 

 Falta de habilitação  

é problema gravíssimo

 
           
Outro problema apontado no Fórum Paulista de Prevenção de Acidentes de Trânsito e Transportes, é a má formação dos motociclistas. Segundo Wilson Kenji Yasuda, coordenador da Comissão de Segurança Viária da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), uma pesquisa recente feita com acidentados no trânsito revelou que 70% dos motociclistas envolvidos em acidentes não tinham carteira de habilitação.
 

           Para reforçar a informação dada pelo representante da Abraciclo, o presidente do sindicato das motoescolas apresentou um dado preocupante.

 

           Mais de 90% das pessoas que procuram uma autoescola para obter a carteira de moto já são motoqueiros, ou seja, aprenderam de alguma forma, não sabemos como, disse José Guedes Pereira.

  Uma motocicleta é apreendida

pela polícia a cada 15 minutos em SP

 

            Só para se ter uma ideia, em 2011, 20 mil motos foram tiradas das ruas. Principais motivos são falta de habilitação do condutor, licenciamento atrasado e problemas na placa. A Capital Paulista tem a maior frota de motocicletas do país: quase um milhão de motos. A cada quinze minutos uma delas é apreendida.

 

            As irregularidades vão de falta de documentação dos motociclistas à adulteração de placa. Quem está circulando irregularmente precisa se cuidar: a fiscalização aumentou. E as apreensões também.

 

            Uma advogada trocou o carro pela moto há seis meses. Agora vai ficar sem os dois. Paguei licenciamento, vistoria, mas não está no sistema deles. Em vez de trazer o documento da moto, trouxe o do carro, justifica. A motocicleta da advogada e outras tantas foram direto para o guincho.

 

            Agora, a garagem delas está sendo um pátio administrado pela CETCompanhia de Engenharia de Tráfego, em convênio com a Polícia Militar de São Paulo. Se não pagar os débitos e o dono não for pegar a moto em três meses, ela vai pra leilão.

 

            As infrações mais comuns são falta de habilitação do condutor, licenciamento atrasado e ausência de placa ou adulteração. Algumas motos têm tantas multas que acabam abandonadas.

 

            Dentre as chamadas "famosas dos pátios", tem a luxuosa, que custa R$ 50 mil; a estilosa, que não rodou nem sete mil quilômetros; e a moto toda rosa, que parece saída de um desenho animado e não tinha licenciamento.

 

            No pátio da CET, Companhia de Engenharia de Tráfego, responsável pelo gerenciamento da mobilidade na capital paulista, encontra-se uma série de irregularidades. É possível notar também a criatividade dos motociclistas, que pensam que vão se dar bem tentando burlar as leis. Um deles, para não ser identificado pelos radares colocou a placa totalmente para cima.

 

            De janeiro até junho de 2011, pelo menos 20 mil motos já foram tiradas das ruas da cidade de São Paulo. O que equivale a uma apreensão a cada 15 minutos. No ano de 2010 inteiro foram oito mil motos apreendidas. 

 

            Então, não esqueça do lembrete: quer vencer o congestionamento, tudo bem. O que não dá é fugir das leis e das regras de trânsito. Essas pegam todo mundo em qualquer lugar do País. Pilotar moto sem carteira de habilitação é infração gravíssima e gera multa. Para outras infrações, como falta de licenciamento, por exemplo, a multa também é alta. Fique atento.

 

Faltam dados sobre  

acidentes de trânsito


           Apesar da gravidade do problema, as políticas públicas que poderiam ajudar a reduzir os índices de acidentes envolvendo motocicletas nas vias de todo o país esbarram na falta de informações confiáveis. 

 

            Mauro Ribeiro, da Abramet, reclamou que não há dados anuais suficientes sobre acidentes de trânsito no Brasil e os poucos números disponíveis não refletem a realidade nacional, pois ignoram características particulares de cada região, de cada estado ou município, e nem levam em consideração o que causa os acidentes.


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