Fernanda Aranda, articulista do site SigaJC.Com
Você já gastou mais de 4 horas no trânsito para percorrer 35 quilômetros de sua casa até o trabalho, ou vice-versa, quase todos os dias?
Durante todo o trajeto, em velocidade mínima, quantas pessoas que dependem do carro para trabalhar não apenas lamentou o congestionamento que separa a sua casa da firma em que trabalha como também abria e fechava as mãos, esticava os braços e girava os pés repetidas vezes.
A “coreografia” dentro do veículo é só uma das possibilidades para evitar os males dos engarrafamentos, que vão além do estresse e das besteiradas no trânsito.
37% dos motoristas perdem
mais de meia hora até o trabalho
Pesquisa revela que 37% dos moradores da Grande Fortaleza, no Estado do Ceará, perdem mais de 30 minutos no trânsito quando se deslocam para o trabalho. E a situação tende a piorar.
Na Grande Fortaleza, sair para o trabalho toma a segunda menor quantidade de tempo no trânsito das nove maiores Regiões Metropolitanas do País. Somente 37,1% dos moradores da Região Metropolitana da Capital cearense gastam mais de 30 minutos no trajeto casa-emprego.
Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República que fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros –, 62,9% da população residente na Região Metropolitana leva menos de meia hora para chegar ao serviço. A situação só não é melhor do que em Porto Alegre (RS), onde 67,2% perdem até 30 minutos no trajeto.
O estudo tomou como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009. O tempo da volta para casa não foi considerado.
"Isso significa que Fortaleza não vive um problema muito crônico. Contudo, ter 11% das pessoas gastando mais de uma hora não é algo desprezível", avalia o pesquisador do Ipea, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho.
A bela cidade de Fortaleza ficou em situação confortável no ranking do deslocamento casa-trabalho por ter uma Região Metropolitana menor em relação às outras oito analisadas.
O Ipea verificou também que cidades periféricas crescem numa escala maior que as capitais. Os empregos, no entanto, ainda estão concentrados nas sedes.
"No caso de Porto Alegre, há uma maior distribuição dos empregos pela Região gaúcha. Lá também tem um ótimo sistema de transporte de ônibus, com corredor exclusivo. Nas cidades que não têm isso, os ônibus ficam presos no trânsito", compara Carvalho.
Mas a situação tende a piorar, e por um motivo simples: a venda de carros e motocicletas só aumenta para uma margem larga de população (66,7%) que ainda não possui veículo próprio e depende do transporte público para ir de um lugar a outro.
Nos últimos 10 anos, segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) surgiram, em média, 165 mil novos carros.
O crescimento da frota na década foi de 103%, bem maior do que o aumento populacional no mesmo período, de 17,1% (mostram os dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O descompasso entre veículos novos, pessoas e espaço físico fez com que o problema do trânsito parado deixasse de ser um privilégio só de cidades como São Paulo e fosse exportado para as principais capitais do País.
Prova disso é uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente que encontrou poluição veicular acima dos padrões seguros ditados pela OMS, Organização Mundial de Saúde, não apenas na atmosfera paulistana, como também em Recife/PE, Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro/RJ e Curitiba/PR.
Amenizar as
dores no trânsito
https://www.caronabrasil.com.br/
O doutor Rubens Rodrigues, médico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia de São Paulo (IOT), explica como podemos amenizar as dores no trânsito. Esse alertamento serve principalmente (mas não unicamente) para as pessoas que não costumam fazer atividades físicas regulares.
As estratégias sugeridas devem ser adotadas antes mesmo de surgir qualquer sinal de cansaço. O ortopedista do IOT-SP usa retórica às vezes para lembrar aos distraídos que o caso é sério, não pode ser visto apenas como uma dica, ou simples informação de gente bem intencionada. Ele reforça que é fator básico de conscientização das pessoas que desejam ter boa saúde, viver melhor. "Portanto, não espere a dor. Quando ela aparece, o organismo já sofreu alguns dos efeitos do tráfego lento", explica.
1. Costas
"Pela janela do carro você olha, com piedade, as pessoas que se apertam nos ônibus, espremidas nos assentos inadequados e em pé. Antes de ter pena, fique sabendo que para a coluna, não há mal pior do que o aparente conforto dos automóveis. Ficar sentado por mais de uma hora é o suficiente para desencadear dores lombares e cervicais.
“Por isso, durante o trajeto, estique os braços, como se estivesse se espreguiçando. Um único percurso por trânsito congestionado é suficiente para provocar um microtrauma nas costas.
O acúmulo pode desencadear um problema crônico. Por isso, além de mexer os braços, é importante fazer alongamento ao sair do carro”, diz o especialista.
2. Músculos e ossos
Primeira, segunda; primeira, segunda... Os congestionamentos típicos das metrópoles – e das estradas em época de férias – põem a saúde em marcha lenta.
Mas ela pode fluir melhor se você adotar as manobras que freiam os problemas.
O tempo de clausura dentro do carro se reflete sobretudo nos músculos e nos ossos, antes mesmo do que você imagina.
“O limite ideal para ficar apertado no veículo seria de 50 minutos. Depois disso, o organismo passa a ser sobrecarregado”, sentencia outro médico, o doutor Helder Montenegro, fisioterapeuta do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral, em Fortaleza, no Ceará.
Cinqüenta minutos, lembra? Para não ultrapassar esse limite máximo e evitar ser penalizado por toda sorte de tormento, o jeito é um só: sair do carro de vez em quando para dar uma boa esticada no corpo ou caminhar um pouco.
Mas, claro, quando você é uma ilha cercada de veículos por todos os lados, isso é impossível. Ainda bem que algumas medidas podem ser tomadas dentro do próprio automóvel para minimizar os efeitos do trânsito no corpo moído.
3. Lombar
Texto: Adriana Bernardino
Antes do câmbio automático, do vidro elétrico, do celular e outras inovações tecnológicas o corpo encontrava mais ocasiões para fazer aquilo que lhe é inerente: mover-se. A rigidez corporal praticada na dinâmica da vida urbana – dirigir e trabalhar sentando por longas horas, por exemplo – representa uma das vilãs das dores nas costas.
“Hoje 80% da população apresenta ou vai apresentar dor lombar”, diz o fisioterapeuta Helder Montenegro, especialista em Reconstrução Muscular Articular da Coluna Vertebral.
Segundo Montenegro, os efeitos colaterais mais comuns ocasionados pelo trânsito são dores lombares e articulares, tensão na base do pescoço, dores nos membros inferiores e superiores, além de problemas circulatórios. “O fator desencadeante dessas dores é a postura sentada inadequada e a permanência prolongada nesta posição. Acima de 45 minutos, a musculatura começa a se fadigar”, alerta.
Prevenção – Com quase mil novos carros todos os dias nas ruas e, conseqüentemente, mais tempo no trânsito, motoristas e passageiros não podem abrir de mão de certos cuidados com a coluna. O banco dos veículos é o primeiro obstáculo a ser vencido.
“A padronização dos assentos usados pelos meios de transporte contribui para os maus hábitos posturais, pois raramente dão suporte adequado à coluna lombar. O encosto ideal deve fornecer um suporte lombar para que a lordose seja mantida, evitando assim futuras dores lombares ou prevenindo o agravamento das lesões já instaladas”, explica o dr. Montenegro.
3a. Postura
O fisioterapeuta dá dicas especiais para que a saúde de sua coluna não seja comprometida enquanto você dirige. São elas:
Inclinação – um suporte lombar pode promover o conforto do indivíduo quando sentado. Como poucos assentos fornecem o suporte adequado, o rolo lombar portátil ou toalha enrolada são essenciais para pessoas com problemas lombares em progressão.
O rolo facilita a manutenção da lordose e da postura correta. Já o uso da toalha tem sido considerado eficaz, pois fornece o volume de acordo com a maneira que é pressionada.
Onde colocar – a toalha deve ficar na altura da terceira vértebra lombar, acima da bacia.
Apoio lombar, rolo lombar ou toalha enrolada que estejam fora das medidas podem provocar dores. O tamanho desse suporte dependerá do biótipo de cada indivíduo.
Braços e pernas – regule a distância do banco para que carga adicional no uso dos pedais não seja transmitida para coluna lombar. Os braços devem estar relaxados e com os cotovelos semifletidos para não tensionar ombros e pescoço.
Nada de dirigir “em cima do volante” nem muito afastado, evitando assim que os braços e pernas fiquem esticados. Pausas freqüentes são importantes para evitar sobrecarga nos discos intervertebrais.
As pernas devem ficar paralelas. Evite dirigir com os joelhos muito flexionados, pois se corre o risco de comprometer a circulação sanguínea.
Chicote – o pescoço também merece cuidado especial. Para que não haja o chamado “chicote”, isto é, movimento brusco do pescoço ocasionado por freadas, a cabeça deve estar próxima ao encosto, mas não relaxada sobre ele, já que a posição pode provocar sono.
Semáforo vermelho – hora de parar. Faça repousos intercalados com movimentos adequados, como alongamento. Esses cuidados simples melhoram a dor e evitam a falta de condicionamento físico.
Pioneiro em adaptar a técnica de estabilização vertebral para dentro da sala de musculação, o dr. Montenegro recomenda também atividade física que possa prevenir dores na coluna, as mais indicadas são musculação e pilates.
“Lembre-se: nunca levante ou suspenda um peso sem contrair a musculatura abdominal e sem dobrar os joelhos. Atividade física em excesso também pode causar dor na coluna vertebral. No primeiro sintoma ou crise de dor suspenda os exercícios imediatamente e procure um profissional especializado em coluna".
4. Ombros
Eles são mais afetados pelas constantes trocas de marcha. Sem medo de exagerar, o ortopedista Rubens Rodrigues, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia de São Paulo (IOT-SP), garante: “Esse movimento, se repetido incessantemente, gera até bursite”. Traduzindo: o trânsito pode provocar uma dolorosa inflamação nos ombros do condutor.
4a. Estratégia
Mantenha o calcanhar no chão. Ajuste o assento para que seus pés, mesmo perto dos pedais, fiquem inteiramente apoiados no chão. Isso ajuda a corrigir a postura. Aí, as dores nas costas, nos ombros e nas pernas diminuem bastante.
5. Pescoço
O principal inimigo dele é o estresse decorrente do tráfego intenso. Sem querer, você tende a cerrar os dentes, tracionando toda a musculatura da área do pescoço.
Pressionada, ela se cansa. É quando surgem os incômodos. Sem contar que a posição dos braços também força a musculatura local, que, vale lembrar, ajuda a sustentar os membros superiores.
5.a. Estratégia
Atenção para a posição dos membros superiores. Mantenha os braços semiflexionados. Afinal, deixá-los esticados por muito tempo aumenta a sobrecarga sobre o pescoço e os ombros, gerando desconforto. Portanto, nada de colocar o assento muito longe do volante.
6. Circulação
Outro impacto imediato é na saúde das pernas, pés e aparelho circulatório. A ausência de movimentos faz com que o sangue tenha mais dificuldade para percorrer o organismo.
As varizes não são as únicas seqüelas. Embolias, em casos mais severos, também podem ser um efeito colateral.
O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre/RS, Luiz Nozari, diz que a situação é tão preocupante que na capital gaúcha a entidade já fez parceria com a associação de cirurgiões vasculares para conscientizar sobre o problema.
“Não há nada mais grave do que sair do banco do carro e ir direto para o sofá. Sempre preconizamos o exercício físico após o trânsito e, como cada pessoa tem um limite, a sugestão mais democrática é a caminhada”, sugere Nozari.
Comparar a rotina de um taxista, que fica no trânsito uma média de 12 a 14 horas por dia, com a de uma pessoa que não trabalha na praça não é um exagero.
Isso porque, grande parte dos trabalhadores do País, antes de pegar a maratona engarrafada, fica horas sentado em frente ao computador, em um escritório, na sala de aula ou em reunião.
Por isso, além de movimentar as pernas e caminhar após o trânsito, uma boa dica é beber muito líquido durante o dia, receita básica para quem quer amenizar os problemas circulatórios.
7. Estresse
Em um congestionamento, não faltam gatilhos para a dor de cabeça, explica Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia.
“Ansiedade por não querer chegar atrasado ao compromisso, raiva por ter de pegar trânsito mais uma vez, poluição e barulho potencializam as crises de enxaqueca e de dores de cabeça”, explica o neurologista.
Segundo o médico, estes fatores não causam a dor de cabeça, mas evidenciam que a pessoa é suscetível à doença.
“Neste caso, mal comparando, a ocasião não faz o ladrão, mas o revela. Como hoje os congestionamentos tornaram-se problemas inevitáveis é importante que a pessoa tenha mecanismos de controle de estresse. Cada um tem o seu, mas existem os universais como ioga e meditação”, diz.
Em situações estressantes, afirmam os especialistas, a respiração também é prejudicada, o que influencia a circulação e as dores de cabeça. Inspirar e expirar profundamente ajuda a melhorar o quadro.
O dirigente do sindicato dos taxista da Capital gaúcha, Luiz Nozari, sugere ainda aproveitar a paisagem interessante, que às vezes fica escondida no congestionamento.
8. Poluição e respiração
Os escapamentos dos automóveis estão a todo vapor do lado de fora. A sensação é de que dentro do carro estaremos mais protegidos dos gases tóxicos. Engano.
O Laboratório de Poluição da USP, Universidade do Estado de São Paulo, já fez medições com um aparelho especializado, chamado monoxímetro, e constatou que no interior dos veículos a poluição chega a ser 30% maior do que às margens das grandes avenidas da capital paulista.
Fechar os vidros e ligar o ar-condicionado nem sempre é uma boa opção, já que a implicação imediata dos gases em excesso é a debilitação do aparelho respiratório, também prejudicado pela atmosfera resfriada.
“A alta concentração dos poluentes nos centros urbanos associada à baixa umidade leva a irritação e inflamação das mucosas respiratórias e as pessoas já portadoras de doenças respiratórias crônicas (asma, bronquite, rinite) têm maior tendência a apresentar crises”, explica o pneumologista Mauro Gomes, membro da comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, em material divulgado pela entidade.
9. Priorizar o transporte público (se possível)
A solução neste caso não é simples. Os especialistas orientam que a melhor maneira é optar por outras formas de locomoção antes de priorizar o transporte individual.
Ainda que a falta de ônibus, metrô e vans públicas de qualidade pareçam incentivar o uso dos automóveis, o excesso de carros nas ruas prejudica os pulmões, provoca um ciclo de doenças que começam pelo trato respiratório, passam pelo cardiovascular, e até psicológico, agressividade e depressão.
Pesquisa recente do Instituto do Coração (Incor) já mostrou inclusive que a poluição veicular potencializa infartos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes. Melhor precaver-se.
Apesar dos
ouvidos moucos